Cá entre nós, essa tal de língua francesa é muito complicada. Não que eu só tenha percebido isso agora, claro, notei desde a primeira vez em que fomos apresentadas. Mas hoje ela se superou. Apesar de eu já estar acostumada com sua escrita de milhões de letras não-faladas, algumas palavras a gente pensa que seriam mais tranquilas, já que designam algo muito usual pra ter tanta frescura. Como a palavra pra "nojento", por exemplo. Ledo engano.
Coisas assim a gente aprende logo na primeira semana em que está num lugar com outra língua. Ouvi meus irmãos hospedeiros dizendo que algo era "degolas" e fazendo a careta correspondente, e pronto, também imaginei que era assim que se escrevia, a resolução óbvia. Mas ontem meu mundo caiu. Eu estava lá, lendo um livro em francês (ênfase no pouco-caso com que digo que estava lendo em francês usado justamente para acentuar o fato de que estou me achando porque consegui ler em francês), aí vejo uma palavra simpática, dégueulasse. O que não era muito fora do usual, já que cada página do meu querido livro em francês tinha algo estilo "que por... caria é essa?!" pra não deixar meu dicionário com ciúmes. E então eu descobri que dégueulasse era degolas. DÉGUEULASSE. Eu já achava que a outra palavra pra nojento, dégoûtant, era fresca demais e meu querido degolas era algo mais fácil, simples, rápido e objetivo para se expressar. Mas não. Bom, o que me conforta é que quem diz essa palavra tem de ser fresco, então a escrita combinaria com a pessoa. De qualquer forma, entrei no trem pra casa frustrada.
Chegando no lar-doce-lar, fui procurar meu irmão hospedeiro, e "Floriaaaaan, como que se escreve nojento?". E ele me vem com a desculpa de que isso faz parte das palavras que a gente não escreve. HAHA! Também não sabeee! Então eu desabafei todas as minhas recentes decepções com a lingua francesa, e ele... adivinha? Deu razão a ela, não a mim. Claro. Porque não falamos os "s" sozinhos, e da forma como eu imaginei ficaria "degola"; e outra, não é "go", é "gueu", uma ligeira diferença entre um O e um E entalado na garganta que eu nunca consigo fazer direito. Que máximo, não?
E é claro que essa não é a única palavra frustante do francês. Como exemplo maior, aquela para "feliz", heureux. Não poderia ter combinação melhor: o querido R impossível entre dois EU que, nesse caso, são o tal E entalado na garganta. Lembrando que o X e o H estão lá só de enfeite, como sempre. Irado, não? Com uma palavra dessas, a gente desiste de ser feliz só de pensar na idéia de ter que pronunciar isso.
E depois ainda dizem que a língua francesa é a língua do amor e não sei o quê. Só se for pra ter ainda mais amor à propria língua!
Bia, a palavra mais difícil de pronunciar para mim, quando aprendia francês, era "ventilateur". Escrito assim parece fácil. No entanto, o "ven" é algo entre o nosso "van" e o "ván" aberto, dirigido ao céu da boca e pronunciado como o vento - "vent". O "ti" é suave, sem o "tchi" brasileiro e com um leve sopro no meio, quase como tsi". Finalmente, para piorar tudo, o tal "eu" de que você fala - "teur" - terrível para os iniciantes, realmente um "ézinho" entalado na garganta e ainda com um "rr" daqueles a arrastar no final... quando consegui pronunciar essa palavra corretamente, um corriqueiro ventilador, me achei um verdadeiro prodígio!
ResponderExcluirMas você tem razão: há palavras no francês que nos deixam danadas. No caso aí do "dégueulasse", eu nem conhecia... conhecia apenas a versão "dégoûtant"! Em todo caso vem, certamente, de "la gueule", a garganta, ou goela. "Goûter" já é degustar, e portanto uma versão mais refinada.
Moral da história: nada como o português!
Oi Maria
ResponderExcluirNão te rales por não saberes ainda escrever um francês perfeito. A língua francesa é realmente muito difícil, mas o que importa é que estás a praticá-la diariamente…
Não vês o teu “irmão suíço” que também não sabia escrever dégueulasse?!
Saber uma língua não é sinónimo de escrever sem erros. Depois de tanta leitura, escrita e conversa, quando voltares da Suíça já estás a dominar o idioma e é isso o que interessa.
Bravo pelo esforço!
Já sei que não podes vir a Portugal na Páscoa. Temos muita pena! Anima-te, então, a visitar-nos em Junho.
Um beijo
Belinha