28 de novembro de 2009

Aquarela do Brasil

Hoje, se não fosse o francês, eu poderia jurar que estava de volta ao Brasil! Um dia lindo, o sol brilhando de uma forma que eu não via há umas boas semanas (meses, talvez? não, não exageremos...). A janela do quarto, sempre aberta para a luz entrar, finalmente atingia seu objetivo. Chegava a ser esquisito, eram sensações que eu já havia esquecido - por exemplo, sair do banho e não precisar correr pra colocar a roupa porque não tava o maior frio. E, ainda por cima, o rádio tocava aquela música de Tropa de Elite, parapapapa. Não, não é possíveeeel! Até português falaram comigo - mas o que meus irmãozinhos sabem falar não vai além do "cala a boca", " 'tás com medo?!" ou palavrão, então a conversa não rende muito, sabe como é.
Saí de casa, meio friozinho - ah, Vitória no inverno, por que não? A Suíça resolveu ser brasileira hoje. Pensei que, por o dia estar lindo, calorzinho até com o sol, deveria estar uns 15 graus. Mas bem, agora eu entendo porque minha família suíça brinca que meu sangue não é tropical e sim viking. Tava 8.

27 de novembro de 2009

Revoltei-me conta meu cabelo, cortei-o quase todo. E ele, coitado, ficou meio desnorteado. Sem saber qual direção seguir, tenta todas ao mesmo tempo.

19 de novembro de 2009

Dois mil e doze

O fim do mundo é a melhor coisa que poderia acontecer agora. Pensa comigo: se dizem que só temos mais 3 anos, diremos que temos de aproveitar o máximo que pudermos! Eu saí da sala do cinema empolgada. Como vou morrer mesmo, vou fazer tudo o que sempre quis fazer. Já tô até elaborando minha lista:
Em primeiro lugar, vou estudar muito. Vou fazer a faculdade de filosofia que eu morro de vontade, já que não preciso me preocupar mais com o mercado de trabalho depois dos estudos. Porque ele não vai existir mesmo. Nem mercado, nem trabalho, nem dinheiro, nem eu. E se eu deixar pra estudar filosofia como segunda faculdade, vou acabar não estudando nunca.
Nas férias, vou rodar o mundo. Rússia, China, Inglaterra, Japão, México, Índia, Groelândia, Nigéria, Israel, Argentina, Iraque, Grécia, Marrocos, Egito, Islândia, Espanha e o que mais der pra conhecer nos entornos. Vou também conhecer melhor o meu próprio país: ir à sua capital, passar um tempo numa casa na árvore na Amazônia, fazer escalada na Chapada Diamantina e depois ver as cataratas da Foz do Iguaçu.
Vou começar a aprender russo, grego e japonês. Começar só, porque infelizmente em 3 anos não dá pra aprender direito - o único ponto desfavorável no fim do mundo.
Vou beber de todas a coisas alcóolicas estranhas que encontrar e aprender a viajar sem sair do lugar de todas as maneiras possíveis. Com os livros, mãe, é claro.
Vou atravessar as ruas correndo no sinal vermelho, vou tomar banho de chuva, vou sair pelada no inverno e não vou passar filtro solar no verão.
Vou abraçar alguém quando estiver precisando, vou gritar palavrões em português quando estiver com saudades do Brasil e em outras linguas quando estiver de volta.
Vou comer grilos e vou fazer o tour gatronômico mais variado que puder.
Vou esquiar, pular de para quedas, fazer windsurf e aprender a pilotar um avião.
Vou tentar fazer pelo menos um amigo em cada continente. E aqueles que forem importantes não terão dúvidas disso.
Vou ter quase todas as experiências de uma vida em três anos. E, quando o mundo não acabar em 2012, é porque Deus não é suíço e tá um pouco atrasado.

10 de novembro de 2009

"Personne ne lui résiste au fond à la musique. On n'a rien à faire avec son coeur, on le donne volontiers. Faut entendre au fond de toutes les musiques l'air sans notes, fait pour nous, l'air de la Mort."
Louis-Ferdinand Céline, em "Voyage au bout de la nuit".

...ou algo que eu li na aula de francês, entendi, achei lindo e me achei o máximo! :D

4 de novembro de 2009

Oisiveté

O bom do blog é que ele tá sempre lá quando o ócio se torna meio insuportável! Tudo bem, eu poderia ter ido pra aula hoje, mas ahh... tava com dor de garganta, tá frio, não tenho notas mesmo, todo mundo já acha que intercambista não quer nada da vida e meus esforços pra tirar essa imagem não dão muito certo.
Idéias do que fazer numa quarta-feira (percebe-se um início de insanidade, talvez):
1- Estudar a matemática esquisita da Suíça. Hm, não deu certo. Estou no terceiro ano, peguei um caderno do segundo do irmão suíço e não entendi nem a primeira página.
2- Ler qualquer coisa em francês. Achei uma edição do Diário da Princesa em francês aqui no quarto, alguma coisa fácil de ler. Mas acho que minha época de romances pré-adolescentes água-com-açúcar já passou...
3- Como o dicionário de francês continua sendo meu melhor amigo, resolvi estudar francês.
Então tá. "Ei, vocês têm uma gramática que eu possa usar?"
Sim, eles têm a gramática, o caderno de exercícios, tudo. A gramática tem uns 40 anos, foi do irmão de não sei quem quando tava na 1ª série.
O pai suíço ficou impressionado que exista alguém que peça exercícios de francês pra fazer. Eu também ficaria, mas não contei pra ele a parte do "ninguém entende o que eu falo, estou numa falta do que fazer tensa e não sou como os outros filhos que quando não têm o que fazer ligam pros amiguinhos e saem, já que meus amiguinhos moram no mínimo a uma hora e meia de mim".
E lá vou eu fazer a loucura. Estudar o tal do francês.
Assunto do dia: subjonctif.
O que eu entendi: a gente tem que usar depois de um "que", mas quase todos os casos de "que" têm uma exceção. Na verdade, a maioria. Então a regra foi criada pra quê mesmo?
Ai, essas línguas latinas têm mania de ser complicadas! Como diriam os homens, "complicadas como as mulheres"... Aháá, talvez por isso achem as mulheres latinas as mais sexys! No fundo, bem que eles gostam da tal complicação... (mas, na verdade, eu acho que eles gostam das latinas porque pensam que são todas como as do carnaval do Rio de Janeiro ou a Shakira. Coitados... Complicaram mais a própria vida).
E outra coisa: porque eles chamam só o povo da América de latinos, se tem uma galera na Europa que fala línguas latinas?
Porque nós somos mais complicados, talvez.
Mas eu acho que essa galera sem contato físico é muito mais complicada que o calor humano brasileiro.

Voltemos ao francês.
Il faut que j'arrête de dire des conneries.

3 de novembro de 2009

toujours pas là

Passei o dia esperando a noite.
Chuva, frio, dor de garganta. De vez em quando, pra preencher o vazio, um pouco de chocolate. Pesquisas inúteis na internet. Quem copiou quem, o euro ou o real? Nunca vi moedas tão parecidas! E francos suíços são tão bonitinhos...
Ah, viva a noite!
Da última vez, encontrei alguém que não via já há algum tempo. Eu começava a esquecer os detalhes de seu rosto, tudo me parecia difuso num passado que eu lembrava ter sido feliz. Havia em seu olhar as mesmas palavras. As mesmas que eu vi antes, as mesmas que eu tinha. Numa verdade da qual eu não ousava duvidar.
Em meus sonhos, eu vejo o Brasil.

2 de novembro de 2009

première connerie

Impressiono-me com as cores deste país. Uma profusão de laranjas, amarelos, vermelhos e, ainda que raros, verdes; uma paisagem que só seria possivel em sonhos fantásticos ou nos meus contos de fadas. Estamos no outono, e a Suíça se mostra, mais uma vez, supreendente.
Dois meses já se passaram desde que deixei o país do verde-e-amarelo, e as transformações em mim são tão evidentes quanto aquelas ocorridas nas árvores. Oito ainda estão por vir, e tenho a impressão de que o "meu lugar", no final desse período, não será apenas no Brasil!
Pois é, uma brasileira de intercambio no país da cruz vermelha-e-branca. ;)